Produtos plásticos sem BPA são mais seguros?
Praticamente toda mãe ou pai já comprou (ou ao menos conhece) produtos livres de BPA ou mais conhecidos como “BPA free”. O uso de produtos com BPA passou a ser uma grande preocupação, pois está cada vez mais relacionado com inúmeros problemas de saúde.
Afinal, o que é o BPA? A sigla corresponde ao nome do composto químico: bisfenol A, um ingrediente utilizado em plásticos de policarbonato e resinas epóxi desde a década de 60.
Nós ficamos expostos ao BPA de inúmeras maneiras. Com bebês e crianças isso é ainda mais perigoso por duas razões: primeiro que os bebês usam muitos utensílios de plástico, como potes, mamadeiras, pratinhos, copos, talheres, mordedores, banheira e brinquedos. Um segundo ponto importante é que se a exposição inicia desde a infância (ou melhor, desde o nascimento), a pessoa estará a vida inteira exposta a esse contaminante! Encontramos BPA até em garrafas de água, latas e nos potes plásticos que tanto utilizamos em casa.
E quais os prejuízos o BPA pode causar? Para resumir uma longa história, ele pode trazer efeitos maléficos até mesmo no cérebro e glândulas sexuais do feto em desenvolvimento! Em crianças também já foi relacionado a alterações comportamentais. Além disso, o BPA está também relacionado a alterações neurológicas, reprodutivas (inlcuindo infertilidade) e até mesmo câncer em adultos.
Então qualquer item com BPA é perigoso? Nem sempre. Existe um limite ao qual podemos nos expor sem nos causar danos. Segundo pesquisas, níveis de BPA abaixo de 1 mg/L na urina são considerados seguros – mas o problema é como saberemos o quanto podemos nos expor para não ultrapassar esses níveis? Alguns trabalhos testaram indivíduos e encontraram níveis aceitáveis em crianças, porém existem resultados conflitantes.
Devemos então comprar produtos livres de BPA? O grande xis da questão nesse ponto é saber quais os efeitos das substâncias que são usadas para substituir o BPA nesses produtos. Novas pesquisas estão demonstrando que os principais compostos usados para esse fim, chamados de BPS e BPF, podem ser igualmente perigosos.
Uma revisão sistemática publicada em 2015 encontrou 32 artigos científicos que analisaram os efeitos danosos do BPS e do BPF. Segundo dados desses trabalhos, ambos compostos atuam como desreguladores endócrinos, assim como o BPA. Estudos feitos em diversos modelos animais com exposição ao BPS encontraram alterações na secreção de hormônios sexuais e na fertilidade. Outros estudos também demonstraram atividade estrogênica do BPF, de maneira tão potente (ou até mais, em alguns casos) do que o BPA.
Ou seja, parece que usar livremente produtos livres de BPA não é uma alternativa 100% segura. Antes de ficarmos em pânico, vale lembrar que o efeito maléfico do BPS e BPF ainda não está completamente estabelecido. Porém, continuamos sem saber o quanto podemos nos expor (e expor nossos filhos) sem ter efeitos adversos.
Então o que podemos fazer por enquanto? Eliminar a exposição ao BPA, BPS e BPF é praticamente impossível, mas podemos agir de algumas maneiras para minimizar a exposição a essas substâncias:
- quando possível, dar preferência a utensílios de vidro, porcelana e inox (para os bebês, o inox seria ideal, já que é inquebrável);
- não esquentar ou colocar alimentos e bebidas quentes em embalagens plásticas;
- evitar usar embalagens plásticas rachadas ou quebradas;
- evitar manusear recibos impressos em papel térmico (esse vale um post especial);
- tentar diminuir a nossa exposição e dos nossos filhos a plásticos em geral, incluindo brinquedos e utensílios do dia-a-dia.
Referências para saber mais: Rochester JR, Bolden AL. Bisphenol S and F: A Systematic Review and Comparison of the Hormonal Activity of Bisphenol A Substitutes. Environ Health Perspect. 123(7): 643-650, 2015.