O post de hoje serve como um alerta sobre o perigo que representa a ingestão das baterias conhecidas como “pilhas botão”. Essas baterias são cada vez mais comuns dentro de casa, estando presentes em vários brinquedos e em eletrônicos direcionados a adultos, como calculadoras, controles, relógios e muitos outros. O grande problema é que devido ao formato pequeno e achatado (que lembra até uma pastilha), essas pilhas podem ser facilmente engolidas por bebês e crianças. O número de casos de ingestão acidental é grande e tem aumentado. No Brasil, apesar de não termos estatísticas sobre esse tipo de acidente, são vários os relatos.
Nos Estados Unidos são registrados mais de 3 mil casos por ano, com uma incidência maior em crianças abaixo de seis anos de idade – e mais de 12% dessas crianças enfrentam complicações graves que podem levar à morte.
A bateria ingerida pode provocar queimaduras cáusticas, com lesões severas no esôfago em menos de duas horas. Em casos mais graves pode haver perfuração do esôfago e lesões no sistema respiratório. Se a criança demora a receber atendimento médico, a retirada da bateria por endoscopia pode ficar impossibilitada, devido à fragilidade e às lesões na mucosa esofágica.
Quem cuida de bebês ou crianças sabe que bastam 10 segundos para que algo aconteça e nos deixe de cabelos em pé! Por isso, evitar que as crianças tenham contato com essas baterias é o melhor negócio. Algumas dicas para isso:
– sempre verificar o compartimento de pilhas dos brinquedos, e só deixar ao acesso das crianças aqueles brinquedos em que o compartimento esteja muito bem protegido por parafusos;
– afastar da criança todos os eletrônicos que elas possam acessar e abrir (normalmente em eletrônicos como controles, relógios, calculadoras e chaves de carro o compartimento não é protegido).
Em muitos dos casos de ingestão acidental dessas pilhas não há um efeito imediato, o que dificulta o diagnóstico. É comum que depois de um certo tempo as crianças demonstrem sintomas como desconforto, “babação”, tosse ou irritação, então em caso de dúvidas, o ideal é buscar atendimento médico de emergência.
Claro que em um mundo ideal nós iríamos nos prevenir e esses acidentes nunca aconteceriam, mas nós vivemos no mundo real, aquele mundo em que as crianças dão nó em pingo d’água e que fazem coisas que jamais imaginaríamos… então por mais que tenhamos cuidados, infelizmente ninguém está livre de um acidente. Por isso mesmo o ideal é saber como agir caso eles aconteçam.
Nesse contexto, uma pesquisa publicada mês passado vem com uma conclusão interessante: o mel de abelhas pode ajudar a diminuir a gravidade das lesões cáusticas provocadas pela ingestão de pilhas. Os pesquisadores desenvolveram um modelo animal em porcos, feito para simular os resultados da ingestão das pilhas-botão e testaram a atividade protetora de alguns alimentos comuns de termos em casa, como mel, suco maçã, suco de laranja e isotônicos. Dentre esses, as muitas variedades de mel testadas exerceram uma proteção bem importante: neutralizaram o pH extremamente alcalino gerado pela atividade cáustica, agiram como uma proteção mecânica devido à sua viscosidade e diminuíram bastante a extensão e a gravidade das lesões.
Claro que esse é o primeiro estudo experimental na área. Ainda não sabemos dizer a quantidade de mel necessária para evitar lesões maiores em uma criança, nem qual seria a “posologia” ideal – de quanto em quanto tempo deve ser administrado após o acidente. Segundo os cálculos dos pesquisadores, uma possibilidade seria recomendar a ingestão de duas colheres de chá de mel de 10 em 10 minutos. Vale lembrar que a ingestão de mel não é recomendada para crianças abaixo de 1 ano de idade (devido ao risco de botulismo, como já mencionei por aqui) e que também não seria recomendada a ingestão tardia do mel em casos de acidente em que já exista a possibilidade de perfuração do esôfago ou sepse. Vamos torcer para que novas e rápidas pesquisas na área possam realmente comprovar os achados desse trabalho!
Para quem quiser saber mais, vale a leitura do artigo científico:
Anfang et al. pH-Neutralizing Esophageal Irrigations as a Novel Mitigation Strategy for Button Battery Injury. The Laryngoscope, 2018. DOI: 10.1002/lary.27312