Muitos produtos que usamos atualmente para em adultos e crianças ganham a alegação de uma função extra de “destruir as bactérias causadoras de doenças” – desde sabonetes, desodorantes, lenços descartáveis, até plásticos e esponjas, sendo que em grande parte deles o agente bactericida é o triclosan. 

Já existem centenas de trabalhos científicos na área, muitos deles colocando em dúvida a eficácia do uso doméstico do triclosan e outros tantos mostrando possíveis efeitos adversos do uso contínuo. Os problemas vão desde a probabilidade maior de dermatites até efeitos mais graves como alterações nos hormônios ligados ao sistema reprodutivo e resistência bacteriana.

Além disso, devido ao seu uso excessivo, o triclosan já foi detectado na água potável de várias capitais brasileiras e alguns trabalhos já associaram a alta concentração de triclosan com efeitos danosos nos organismos aquáticos. Outro ponto que tem chamado a atenção da ciência é a possibilidade de o triclosan alterar a microbiota, nossa flora bacteriana normal. Já falei aqui que cada vez mais as alterações na microbiota têm sido relacionadas com o desenvolvimento de várias doenças, que vão desde a obesidade à doenças autoimunes e neurológicas. Nesse sentido, algumas pesquisas ainda estão chegando a resultados conflitantes quanto à possibilidade do triclosan alterar nossa flora, mas uma possibilidade levantada é de que nosso organismo pode estar se adaptando ao uso cada vez mais precoce de produtos contendo triclosan.

Assim, apesar de evidências de que o triclosan não afeta a microbiota de indivíduos adultos, isso pode estar acontecendo em bebês, crianças e adolescentes. Temos que levar em consideração que hoje em dia a exposição ao triclosan começa já na vida pré-natal, através da mãe. Precisamos de mais pesquisas para mostrar o real efeito dessa exposição em pessoas de todas as faixas etárias, e qual seria o limite máximo que poderíamos estar expostos. Mesmo assim, diante de tantas evidências, eu acredito que devemos evitar o uso de produtos com triclosan, principalmente em gestantes, bebês, crianças e adolescentes. Outro ingrediente que também vale a pena ser banido das prateleiras domésticas é o triclocarban, cujas pesquisas têm demonstrado possuir tanto efeito negativo quanto o triclosan.

Referências de artigos científicos para saber mais: Dhillon et al. Triclosan: current status, occurrence, environmental risks and bioaccumulation potential. Int J Environ Res Public Health 22;12(5):5657-5684, 2015.

Kennedy et al. Triclocarban and Health: the Jury Is Still Out. mSphere 1(6): e00239-16, 2016.