Compostos que podem alterar o desenvolvimento cerebral
Você sabia que muitos dos alimentos e produtos do dia-a-dia a que estamos expostos são contaminados com produtos químicos que podem interferir no neurodesenvolvimento infantil?
Em um comunicado publicado no periódico Environmental Health Perspectives, dezenas de cientistas e médicos apelam para que haja mais atenção na questão da exposição à poluentes ambientais, já que cada vez mais um grande número de evidências relacionam a exposição a alguns desses agentes com alterações no neurodesenvolvimento. Isso é particularmente grave para gestantes, pois a maior parte do desenvolvimento cerebral da criança se dá durante o período gestacional.
Uma pesquisa comprovou que 90% das mulheres grávidas nos Estados Unidos têm níveis detectáveis de alguns compostos químicos capazes de interferir no desenvolvimento fetal. Isso é muito preocupante e vai ao encontro das estatísticas de que 1 em cada 6 crianças americanas apresentam alguma alteração no desenvolvimento.
O projeto formado por esses cientistas afirma que já é um consenso que a exposição a determinados compostos químicos pode aumentar o risco para alterações cognitivas, comportamentais, sociais e até para desordens como autismo e TDAH. Aqui vale lembrarmos que não é qualquer quantidade desses compostos que causará danos, mas a dificuldade reside em justamente saber ao certo quais seriam os níveis aceitáveis de cada um – tanto dentro do nosso organismo, quanto nos produtos em que eles estão presentes. É exatamente por isso que existe uma necessidade URGENTE de mais pesquisas na área e de leis e mecanismos regulatórios para limitar a produção e uso desses compostos.
Dentre os compostos químicos que já tiveram associação com alterações do neurodesenvolvimento infantil, estão:
- PBDEs, retardantes de chama presentes em muitos produtos domésticos (de colchões à eletrônicos). Já falei de alguns efeitos deles em posts passados: foram associados, dentre outras coisas, com diminuição da fertilidade e alterações comportamentais em crianças;
- ftalatos, presentes em plásticos e relacionado com alterações hormonais, intelectuais e na fertilidade;
- hidrocarbonetos aromáticos policíclicos: poluentes ambientais relacionados com muitas patologias, do câncer à alterações cerebrais;
- chumbo, presente em determinadas tintas;
- mercúrio, encontrado também na água;
- bifenilas policloradas, contaminantes ambientais, presentes em transformadores elétricos e capacitores.
E o que nós podemos fazer por enquanto? Evitar a exposição a componentes eletrônicos e materiais plásticos, comprar menos coisas inúteis e cobrar das autoridades que sejam feitas leis limitando a produção e uso desses compostos!
Em outros posts vou falar mais sobre cada um desses poluentes, e como podemos fazer para evitar a exposição a eles.
Referência do artigo científico para saber mais: Bennett D et al. Project TENDR: Targeting Environmental Neuro-Developmental Risks. The TENDR Consensus Statement. Environ Health Perspect 124:A118–A122, 2016.